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Carta do Gestor - Setembro de 2018

Foto do escritor: André GordonAndré Gordon

Atualizado: 5 de out. de 2018

Prezados cotistas,


O mês de setembro foi marcado por relativa calmaria nos mercados internacionais. Donald Trump vem conseguindo renovar acordos comerciais com seus parceiros do NAFTA e a economia norte-americana segue aquecida. Apesar da alta na remuneração dos títulos de 10 anos do tesouro americano, o mês foi marcado por uma estabilidade do dólar frente às principais moedas, inclusive o Real.


O IBOVESPA teve desempenho positivo, de 3,5% no mês, enquanto nosso fundo caiu 1,6%. O desempenho negativo pode ser atribuído ao aumento de aversão ao risco, que afetou principalmente as empresas de pequena e média capitalização de mercado. E esta dinâmica acaba ficando parcialmente encoberta quando observamos o índice IBOVESPA, que ao final de setembro acumulava alta de 3,85% em 2018. Excluindo-se o desempenho de três empresas, entretanto, o IBOVESPA estaria caindo mais do que 10% neste ano. São elas a Vale, a Suzano e a Petrobrás, que combinadas respondem por aproximadamente 27% do índice. Essas empresas, principalmente as duas exportadoras, têm se beneficiado da forte demanda externa e do Real depreciado. A Petrobrás, apesar da interferência do governo durante a greve dos caminhoneiros, acaba também se beneficiando dos bons preços do petróleo e do dólar.

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A atividade econômica mostrou sinais de enfraquecimento, apesar de números ainda positivos. O desemprego caiu mais 0,1%, para 12,1% enquanto a capacidade utilizada na indústria subiu para 78,1%. Foi no desempenho do varejo onde observamos maiores frustrações em relação às expectativas. Os indicadores de inflação seguem comportados, apesar do Real mais fraco. O BC manteve a taxa Selic em 6,5%, mas dando sinais e que pode haver pressões que levem à um pequeno ajuste mais para o final do ano. No campo fiscal o governo tem mostrado certa disciplina enquanto a agenda das reformas segue paralisada por conta do período eleitoral.


Nossa impressão é que tanto os consumidores quanto os empresários aguardam o desfecho do processo eleitoral, estando todos mais cautelosos.


Estamos a três dias do primeiro turno. Ao longo do mês de setembro, houve um afunilamento entre os candidatos e os principais institutos de pesquisa confirmam a liderança de Jair Bolsonaro, com 32% das intenções de voto, seguido por Fernando Haddad, com 23%. Geraldo Alckmin vem protagonizando uma das mais vergonhosas campanhas eleitorais de que se tem memória. Apesar de ter 40% do tempo de TV e de ter conseguido formar a mais ampla das coligações, o candidato errou ao focar sua campanha nos ataques ao Bolsonaro, ganhando antipatia entre parte de seu eleitorado ao invés de tentar canalizar para si o antipetismo. Geraldo chega ao final da campanha com aproximadamente a mesma participação que tinha no início. Marina Silva, apática e sem verbas ou tempo de TV, acabou vendo seus potenciais eleitores migrando para outros candidatos. A surpresa do mês foi o crescimento de Fernando Haddad, destacando-se como o representante da esquerda e se consolidando com certa margem à frente de Ciro Gomes.


No final do mês, a Polícia Federal acatou a delação premiada feita pelo coordenador das campanhas presidenciais de Lula e Dilma, além de ex-ministro da fazenda do primeiro governo do Lula e ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff. Palocci foi um quadro histórico do PT e um dos nomes que chegou a ser cotado para a sucessão presidencial. Entre as informações que já vieram à luz, Palocci alega que Lula tinha ciência dos esquemas de corrupção (mensalão e petróleo), tendo participado de importantes reuniões. Ele indicava diretores para as estatais com o objetivo de garantir o pagamento de propinas para o PT. 90% das Medidas Provisórias do governo teriam sido aprovadas mediante pagamento de propinas. As campanhas de Dilma Rousseff teriam consumido R$ 1,4 bi, o triplo do que havia sido apresentado ao TSE. Isso seria apenas uma parte do que revelou Palocci. Alguns dias depois, Marcos Valério, também resolveu fazer sua delação premiada, esta trazendo à luz além de detalhes do mensalão, revelações que podem levar a reabertura do caso Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.


É muito difícil saber qual o efeito potencial destas delações sobre a candidatura do Haddad. O eleitorado do PT parece anestesiado quanto à gravidade destes escândalos. O fato é que estamos muito próximos do primeiro turno e, eventualmente, esse pode sim haver não só uma perda de apoio em seu eleitorado, quanto dificultar apoios formais dos demais candidatos do campo progressista.


Os mercados atribuem uma probabilidade de 20%, aproximadamente, de vitória do Bolsonaro em primeiro turno. O mais provável é que tenhamos três semanas tensas entre 7/10 e 27/10, com extremos opostos se enfrentando nas urnas. Hoje há empate técnico entre eles para o segundo turno. Se utilizarmos a lógica ideológica, com os eleitores de partidos mais a direita migrando majoritariamente para o Bolsonaro ao passo que os mais progressistas para o Haddad, chegamos a uma pequena vantagem para o Jair Bolsonaro.


Esperamos que em nossa próxima carta já tenhamos uma maior clareza quanto às perspectivas futuras para o Brasil. No caso da vitória de Jair, acreditamos, inclusive, que o Congresso Nacional tentará aprovar a importante e necessária reforma da previdência. Não precisamos lembra-los de que neste caso deve haver uma redução na taxa de câmbio, uma queda nas taxas de juros de médio e longo prazo e, consequentemente, uma correção de preços nas ações.


Tal como Ulisses, também buscamos nos amarrar, mas aos fundamentos de mais longo prazo, tentando escapar tanto das tentações que se apresentam por um lado, quanto dos pânicos que se apresentam pelo outro, ao longo desta turbulenta travessia.


Atenciosamente,

André Gordon

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