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Carta do Gestor - Novembro de 2022

Prezados cotistas,


Em novembro, os principais mercados seguiram a recuperação iniciada em outubro, principalmente após a sinalização de que o aperto monetário promovido pelo FED poderia começar a perder força, já a partir do final deste ano. A inflação pode já ter atingido seu pico e a preocupação com o nível de atividade tende a ganhar importância relativa. O S&P500 subiu 5,4% enquanto o Dow Jones 5,7%. O Ibovespa, na contramão, caiu 3,1%. O dólar perdeu 5% de seu valor em relação à cesta de moeda, mas o Real foi exceção, tendo perdido 0,2% de seu valor em relação à moeda norte-americana. Nossos fundos tiveram um desempenho negativo, com o GTI DIMONA, GTI HAIFA e GTI NIMROD fechando com quedas de 5,86%, 5,35% e 4,27%, respectivamente.


Esse descolamento do Brasil se deu, apesar de bons indicadores econômicos que foram divulgados ao longo do mês. A taxa de desemprego caiu, novamente além do esperado, atingindo 8,3%. A elevação nos preços segue perdendo força, mesmo com a atividade aumentando. Os mercados parecem ter tido um primeiro choque com a realidade, após meses em que personalidades formadoras de opinião haviam declarado seu apoio ao ex-presidente Lula.


Os nomes indicados para a equipe de transição do governo chegam a causar constrangimentos, mesmo aos mais tolerantes. Uma equipe numerosa, reunindo apoiadores históricos com aliados de última hora e oportunistas, que parecem ter pouca ou nenhuma coordenação ou alinhamento, exceto na busca por algum “lote” no próximo governo. Na área econômica, foi onde esse contato com a realidade trouxe os maiores traumas para o mercado financeiro. Os nomes mais associados ao equilíbrio fiscal e a estabilidade monetária, como Henrique Meirelles, foram deixados de lado e saíram rapidamente de cena, desejando aos demais um “boa sorte”.


Restaram cotados para o comando da fazenda nomes sabidamente heterodoxos como Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Rui Costa, todos quadros do PT, além do ex-ministro Guido Mantega, que renunciou à equipe de transição, após ter sido constatado que estaria inapto a cargos na administração pública devido a punições envolvendo o caso das “pedaladas fiscais”.


Mas não foi apenas a cogitação de nomes heterodoxos o que preocupou os investidores em novembro; a PEC da Transição, tal como foi apresentada ao Senado, corrobora o desconforto percebido em relação à indisciplina fiscal. Resumidamente, a equipe pede ao Congresso que retire o “Auxílio Brasil” do teto de gastos, além de recursos para atender outras promessas eleitorais. E se de um lado Lula pede R$ 700 bilhões a mais de orçamento para os próximos 4 anos, por outro já havia dito que não venderia ativos e, pasmem, buscaria intervir nas estatais como a Petrobrás objetivando reduzir os preços de derivados, acarretando menores dividendos para a União.


Acreditamos que o Congresso Nacional tende a promover ajustes nessa PEC, reduzindo para algo como 1 ou 2 anos seu período de vigência e abrindo espaço para valores mais modestos, possivelmente comportando o pagamento dos 200 reais extras junto ao “Auxílio Brasil”. Um Congresso Nacional com perfil mais centro-direita e conservador, não teria por que facilitar, ainda mais, a vida de Lula, levando em conta a maior autonomia que a casa legislativa conquistou nos últimos anos.


O resultado dessa perspectiva tenebrosa é que o risco de deterioração fiscal deve provocar o Banco Central a um maior conservadorismo e apertos monetários adicionais. Essa é uma das vantagens de ter o BCB independente. A curva de juros se deslocou para cima, deixando o nível de 11,5% para até 14%, terminando o mês na faixa de 13%, o que levou a forte correção de preços nas ações de empresas mais voltadas a atividade doméstica.


O Real se depreciou em relação à cesta de moedas, exceto o dólar, o que trouxe algum prejuízo à queda mais acentuada de preços. Podemos afirmar que, mesmo antes de iniciar seu governo, Lula e sua equipe já trouxeram algum prejuízo ao seu próprio governo, com a deterioração de expectativas. Muitos faziam o paralelo entre o próximo governo com o início de sua primeira gestão, apontando para o pragmatismo do ex-presidente.


A grande realidade é que em 2002 Lula ainda não tinha o perfeito entendimento sobre gestão e herdará as contas relativamente ajustadas e diante do maior ciclo de commodities em décadas. Hoje a conjuntura ainda é de recuperação dos estragos causados pela última gestão do governo Dilma num ambiente global mais desafiador pela desaceleração das economias mais desenvolvidas e indefinição na guerra entre Rússia e Ucrânia.


Os destaques positivos de nosso portfólio ficaram por conta das duas principais posições, Gerdau e Vale, que reagiram bem à recuperação de preços do minério de ferro, de 20% no mês após medidas de estímulos na China e, no caso da Gerdau, combinando com fortes resultados operacionais e boas perspectivas de margens nos EUA e América do Sul. As ações da Petrobrás também subiram 2,4% no mês, com mais um forte dividendo sendo anunciado. Ao longo das últimas semanas, ajustamos a nossa exposição para baixo, apesar de reconhecer nas ações da empresa uma das melhores oportunidades de investimento, sendo negociadas por volta de 3 vezes o lucro esperado para 2023.


As incertezas seriam causadas pelo risco de interferências do próximo governo, tanto na política de preços da empresa, buscando “abrasileirar” os preços dos derivados, além de voltar a investir em segmentos como o refino, onde no passado os casos de corrupção geraram fortes perdas. Assistiremos o embate entre os mecanismos de governança adotados pela empresa e resiliência da Lei das Estatais por um lado e a cúpula do PT junto com alguns políticos oportunistas e fisiológicos, ávidos por voltar a controlar a empresa, do outro.


Acreditamos que a empresa se encontra em posição muito mais confortável hoje do que no primeiro governo do PT, mas ainda assim, a volatilidade deve seguir elevada conforme os anúncios e tentativas de incursão ocorram.


A elevação nas taxas de juros mais longas levou as ações da BR Malls a queda de mais de 13% e de varejistas como a Guararapes e Pague Menos a quedas próximas de 30%. Até que sejam definidos os nomes que ficarão à frente da fazenda, assim como as políticas que serão efetivamente adotadas e tivermos melhor compreensão de quais os graus de liberdade que o Congresso Nacional deixará para o Poder Executivo, devemos seguir com essa maior volatilidade nos mercados, apesar dos preços já se mostrarem muito atrativos.


Alocação setorial - GTI Nimrod FIA


Atenciosamente,

André Gordon.

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