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Carta do Gestor - Fevereiro de 2023

Prezados cotistas,


No mês de fevereiro, o S&P 500 caiu 2,6% enquanto o Nasdaq caiu 0,5%. Novos indicadores de inflação mostraram maior persistência da elevação de preços e, diante de um mercado de trabalho apertado, o mercado revisou o ciclo de alta de juros para cima, com a taxa básica podendo chegar até 5,5%. No Brasil os indicadores de atividade começam a apontar para uma desaceleração, com os preços perdendo força. Os sinais negativos emitidos pelo Governo, entretanto, prejudicam as ações do BCB que teve que manter um tom mais conservador em seus comunicados, apesar da manutenção da taxa Selic em 13,75%. As taxas mais longas de juros voltaram a superar o patamar de 13,25% diante de perspectivas menos otimistas quanto ao controle das despesas públicas.


O governo fala em aumentar impostos, por exemplo com o fim da desoneração do PIS e do COFINS sobre os combustíveis, mas ainda não acenou com cortes de despesas. O dólar se valorizou 2,7% diante da cesta de moedas e 3,1% em relação ao Real. O Ibovespa caiu 7,5% enquanto os nossos fundos GTI DIMONA, GTI HAIFA e GTI NIMROD tiveram quedas de 8,21%, 7,72% e 7,6%, respectivamente.


O ambiente externo ficou um pouco mais difícil: títulos de 10 anos do tesouro americano voltando a ter rendimento acima de 4% ao ano; a guerra na Ucrânia ganhando novas perspectivas, com o aumento do envolvimento de países membros da OTAN, através do fornecimento de material bélico moderno e superior; a Rússia ameaçando a ocupação de outras nações como a Moldávia e transportando armamento nuclear em suas embarcações no continente europeu. Se os sinais emitidos pelo governo brasileiro fossem positivos, o Brasil poderia atrair muito mais recursos uma vez que tem posição mais neutra e distante do conflito e iniciou seu ciclo de aperto monetário um ano antes dos países da OCDE. Infelizmente estamos desperdiçando uma nova oportunidade.


Por outro lado, os resultados divulgados pelas empresas têm sido bastante positivos, com destaque para as empresas de commodities, shopping centers e algumas industriais. A Petrobras divulgou resultados acima das expectativas, com forte geração de caixa e anúncio de dividendos referentes ao lucro do quarto trimestre. Para se ter uma ideia do quão barata encontra-se a empresa, o dividend yield referente apenas do 4Q22 corresponde a aproximadamente 10% do valor de mercado da empresa.


Infelizmente, apesar dos bons números apresentados, da redução significativa no endividamento, dos investimentos focados na exploração e produção de petróleo com altíssima produtividade, entre outras conquistas, as ações da empresa também seguem desempenhando negativamente por conta dos riscos percebidos pelo mercado em relação ao governo atual e seu intervencionismo nas estatais, apesar da Lei que suspostamente as protege de gestões temerárias ou que vão de encontro com os objetivos da empresa e sua perenidade.


Acreditamos que esses riscos existam de fato, mas alterações relevantes em regras como a da formação dos preços dos derivados não são triviais e podem ter consequências bastante negativas para o setor, assim como para outros ramos da atividade. Gerar prejuízos deliberadamente pode implicar em processo contra os executivos responsáveis. Importar petróleo e vende-lo abaixo do preço internacional, de forma contínua e recorrente, pode caracterizar gestão temerária da empresa, que é de economia mista. Com o fim da isenção de PIS e COFINS sobre a gasolina, por exemplo, os preços tendem a subir.


O momento é relativamente favorável por conta dos preços mais baixos do petróleo no mercado internacional. A Petrobrás pôde, inclusive, reduzir os preços na refinaria, já que estavam com prêmio, atenuando um pouco os efeitos da volta dos impostos. Essa ameaça, a mais grave até o momento, assim como a redução no pagamento de dividendos, tem mantido as ações da empresa pressionadas.


Nossa maior preocupação é que o mal seja feito em doses homeopáticas. O ideal seria que as regras de mercado fossem preservadas. Sob essa impossibilidade, as “barbeiragens” acabarão tendo efeito pedagógico sobre o governo, seja por que impedirão ações expansionistas pelo BCB, seja por que afastarão investimentos ou porque prejudicarão ainda mais o mercado de crédito, bastante afetado pelo evento de “inconsistências contábeis” nas Lojas Americanas. Essa combinação é bastante negativa e seus impactos sobre a atividade podem interromper essa curta “lua de mel” do Congresso com o Poder Executivo.


Em que pese o Brasil ter o regime presidencialista, é no Congresso Nacional, hoje com maioria de partidos não alinhados ao governo que de fato está o direcionamento para o qual o país deve seguir, obviamente desconsiderando que o terceiro poder, o Judiciário, siga exacerbando suas prerrogativas constitucionais. Por ora ainda temos empresas baratas em um ambiente relativamente benigno e disposto a dar o voto de confiança. Basta um aceno.


Por fim, lembramos que os preços de hoje já se encontram em níveis absolutamente interessantes, principalmente quando tratamos de empresas com posições consolidadas de mercado, vantagens competitivas relevantes, mercado potencial enorme e confortável posição financeira. Já vimos este filme algumas vezes e, essas são sobreviventes, sempre mais fortes, apesar de menores do que poderiam ter sido, caso o ambiente macroeconômico lhes tivesse sido mais estável e amigável.


Alocação setorial - GTI Nimrod FIA


Atenciosamente,

André Gordon.


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